quarta-feira, novembro 30, 2005

CARTA DE UMA MÃE ALENTEJANA


Meu Querido filho,Ponho-te estas poucas linhas para saberes que estou viva. Escrevo devagar,por que sei que não gostas de ler depressa.
Se receberes esta carta, é porque chegou. Se ela não chegar, avisa-me que mando-te outra.

Teu pai leu no jornal que a maioria dos acidentes ocorrem a 1 km de casa.Assim, mudámo-nos para mais longe.

Sobre o casaco que querias, o teu tio disse que seria muito caro mandar-to pelo correio por causa dos botões de ferro que pesam muito. Assim arranquei os botões e coloquei-os no bolso.
Quando chegar aí, prega-os de novo.

No outro dia, houve uma explosão na botija de gás aqui na cozinha.. O pai e eu fomos atirados pelo ar e caímos fora de casa. Que emoção: foi a primeira vez em muitos anos que o pai e eu saímos juntos.

Sobre o nosso cão, o Jolly, anteontem foi atropelado e tiveram de lhe cortar o rabo, por isso toma cuidado quando atravessares a rua.

Na semana passada, o médico veio visitar-me e colocou na minha boca um tubo de vidro. Disse para ficar com ele por duas horas sem falar... O teu pai ofereceu-se para comprar o tubo.

Sobre o pai: ele arranjou um bonito trabalho. Tem quase 500 pessoas debaixo dele. Agora é coveiro aqui no cemitério.

O teu primo, o Zé, casou-se e agora reza todas as noites à esposa.. É que ela é virgem e chama-se Maria.

O teu irmão António deu-me muito trabalho hoje. Fechou o carro e deixou as chaves lá dentro. Tive que ir a casa, pegar a suplente para a abrir. Por sorte, cheguei antes de começar a chuva, pois a capota estava em baixo. Se vires a Dona Esmeralda, diz-lhe que mando lembranças. Se não a vires,não digas nada.

Tua Mãe Maria

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